Sorridente

O celular tocou e na mesma hora eu me perguntei quem é que ainda telefona nos dias de hoje. Os números, muitos, tão bagunçados e sem uma repetição, não me fizeram ter a mínima ideia de quem era. Atendo. 
"Oi. Sabe quem tá falando?". Finjo que não entendi e repito o "alô?". Aquela voz feminina, e doce, repete meu nome e pergunta novamente se sei quem está do outro lado da linha.
Digo que a ligação tá ruim, que sou eu mesmo e pergunto quem é. Ela se identifica e na mesma hora um sorriso surge no meu rosto. Havia uns bons 3 ou 4 anos que a gente não se falava. “Desde o Orkut, né?” ela brincou ao dizer. Perguntas rápidas e ela disse “liguei porque estava com saudade. Adoro conversar com você. Podemos nos ver?”
E nos vimos. Como imaginei, ela estava carente. Não de um homem, mas de atenção. Estava vindo de uma namoro recém-terminado que havia nos afastado nos últimos dois anos. Fui até a casa dela e minhas expectativas desde mais cedo eram as mais maldosas possíveis. Conversa vai, conversa vem... me conta toda sua história.
Conta dos planos que fez.
Conta dos sonhos que realizou.
Conta dos bons momentos que teve.
Conta da decepção ao ver que as coisas não eram mais as mesmas.
Lembra de tudo que abriu mão.
Dos amigos que se afastou, dos lugares que parou de ir, dos sonhos que interrompeu.
Explica o porquê de ter acabado
E, chorando, me diz que ainda dói.
Ela agradece por ouvi-la, diz que era isso que precisava. Eu digo que podia contar comigo. Pra muito mais.
Nos outros dias a gente se falava sempre. Cada nova mensagem no Whatsapp eu já sabia que era dela.
Voltamos a nos ver.
Conversamos mais. Saímos mais. Bebemos. Nos beijamos. Dormimos juntos. Várias vezes. Não era sempre que nós saímos, mas quando nos víamos, acontecia.
Foram uns 3 ou 4 meses assim.
Quando dei por mim, de certo modo eu já estava me envolvendo. Ainda nos falávamos todos os dias mas o relacionamento, mesmo, ainda não era algo concreto.
Um dia ela perguntou se eu sentia ciúme dela. Eu disse que não. Era verdade. Não sentia mesmo.
Contou-me que surgiu alguém que estava fazendo ela sorrir.
Que era uma boa pessoa. Queria saber o que eu achava dele.
Eu chorei um pouco. Olhando pra tela do celular, eu chorei. E bem em cima de emoticon sorridente foi onde caiu uma lágrima. Fiquei pensando o quão irônico era isso. Ela estava feliz, pombas!
Com o tempo, a gente acabou se afastando novamente. Os relacionamentos fazem isso, né? O meu “outro alguém” também veio a aparecer.
Não sei porque, mas esses dias o Facebook resolveu mostrar uma foto dela no meu feed. Ela e ele. Os dois com a mão na barriga dela e a legenda contando a novidade. Eu sorri. E até comentei na foto com um emoticon sorridente.  

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