Bloqueados

"Tá bom. Então eu tô te bloqueando e vou sumir da sua vida como você quer." 
Foram com essas palavras que bloqueei ela no meu Whatsapp. Bloqueei, guardei meu celular no bolso e apenas virei minha cabeça pra trás sentado naquele metrô vazio às 6 da manhã de sábado logo após a nossa última briga.
Tentei bem controlar, mas tive a sensação de que uma ou outra lágrima escorreu do meu olho. Meus sentimentos eram de raiva, alívio, revolta, paixão. Triste por tudo ter acabado. Aliviado por ter enfim chegado essa hora.
Ao descer do metrô percebi: havia álcool agindo em mim ainda. Meus pés não tinham passos firmes. tonto, entrei em casa. Não vi cozinha para beber, não vi banheiro para me lavar, não vi quarto pra trocar de roupa. Vi apenas aquele sofá na sala. E ali deitei dormi com todo cansaço do mundo, como todos aqueles sentimentos misturados dentro de mim.
Não sei quanto tempo passou mas me pareceu poucos minutos, embora certamente foram algumas horas, mas meu celular tocou. Ainda estava no bolso da minha calça. O número aparecendo, claro, era o dela. Minha vontade era de tacar longe aquele aparelho mas falou mais alto o mais forte dos sentimentos e atendi.
Do outro lado da linha, era alguém chorando, me pedindo desculpas, dizendo que havia errado embora eu também tivesse.
Chorei, disse que OK.
Horas depois estávamos nos amando novamente, juntos.
E nos amamos por vários dias.
Outras brigas aconteceram. Outras vezes ela pediu "some da minha vida" esperando que eu dissesse que eu não sumiria mas que eu apenas concordei, deixando-a com mais raiva ainda. Outras vezes foi eu que não quis mais nada. Outras foram ela que me bloqueou no Whatsapp, que me deletou do Facebook e que me xingou de todas as formas.
E, nessas indas e vindas, a gente parecia se entender.
Um dia tudo se repetiu: brigar, parar de se falar, bloqueios. Mas dessa vez não voltamos. Outras pessoas ficaram no topo do chat dela, outras na minha.
Quando já havia outra pessoa pra eu brigar e fazer as pazes, ela me procurou bem quando eu estava brigado. "preciso de você e é de você que sinto falta".
Eu disse que não, não adiantava voltar pra ser o que era.
Tinha que ser diferente. Foi diferente. As coisas não mudavam porque a gente não mudava e não dávamos um passo à frente.
Hoje em dia as brigas são mais bobas: pintar ou não a parede de uma cor diferente, mudar ou não o pacote da Sky, assinar o Combate ou pay-per-view do BBB, comprar um carro ou dar entrada em apartamento pra sairmos do aluguel.
Porque sim: se as brigas foram pra ficarmos juntos, a melhor solução foi ficarmos sempre juntos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O dia que o padre Marcelo Rossi matou Jorge Lafond

A fantástica raquete mata mosquito

O dia que fui iludido por DM... por um supermercado.